Definitivamente precisamos de um reboot na forma e no conteúdo usado para educar nossos jovens. Como os resultados dos exames e testes internacionais como o PISA indicam, somos dos últimos colocados na preparação dos estudantes do nível médio, mesmo tendo um sistema educacional público e privado com foco exatamente em que o aluno passe em testes, como o ENEM, e não com foco em uma educação agnóstica e holística como pede a nova sociedade. Preparar para o mercado é quase uma heresia em termos educacionais no Brasil.
Acesso em massa a conteúdo e informação é um dos benefícios que a tecnologia pode trazer para esse reboot, mas isso está longe de resolver os problemas do nosso ensino, principalmente o médio. Não é dando um tablet para cada aluno nem replicando em vídeos na internet as aulas dadas em sala, que iremos dar o salto necessário e atingir o patamar de qualidade que os exames internacionais pedem, nem disseminar o tipo de conhecimento, pensamento e cultura que os profissionais do século XXI precisam.
O sistema de ensino praticado hoje na maioria das nossas escolas vem das linhas de produção desenvolvidas após a revolução industrial. A estrutura hierárquica, o fluxo unidirecional de conteúdo do professor para o aluno e a necessidade de memorização que ainda dominam os estudos, não servem mais para a nova indústria altamente robotizada que está surgindo. E a mesma tecnologia que está criando essa nova indústria pode ajudar muito a mudar esse cenário, mas sem o rompimento completo com esse sistema educacional arcaico não há tablet ou internet que resolva.
Como a gente já viu aqui e aqui, a formação desse aluno, que será o profissional de um futuro que não está mais batendo mas já está abrindo a porta, não passa mais por disciplinas estanques mas sim por atividades interdisciplinares como resolução de problemas, pensamento crítico, processos decisórios, trabalho em equipe e perseverança que utilizam de maneira prática e objetiva a matemática, biologia, geografia, etc. em projetos com um fim. O aluno tem que ir para a escola para realizar e não apenas para escutar, memorizar, repetir e ser testado nisso. Há diversas iniciativas que juntam tecnologia com esse conceito de projeto, de objetivo real para além do aprendizado formal.
O Brasil é o mais novo país a se juntar ao GLOBE, projeto que conecta mais de 4 mil escolas do mundo com cientistas. Os alunos coletam dados ambientais de suas regiões e os enviam aos especialistas, que ajudam a analisá-los e a sugerir soluções para problemas do meio ambiente local. Segundo a Unesco, iniciativas como essa oferecem oportunidades práticas para exercitar e aplicar conhecimento e competências além de motivar os estudantes que se envolvem muito mais no processo de aprendizado.
Envolver o estudante é outro enorme desafio e fundamental para manter o aluno na escola, e isso é potencializado quando o conteúdo é personalizado de acordo com seus pontos fortes e fracos. A Geekie, startup brasileira de tecnolgia educacional, desenvolveu um software que ao interagir com o estudante percebe suas dificuldades e cria um plano de estudos adaptado para ele.
Mas nenhuma dessas iniciativas pode alcançar seu potencial completo sem um professor dedicado.
Falar em mercado quando se fala dos professores também é uma heresia. Professores por aqui são percebidos e tratados quase como voluntários desvalorizados quando na verdade são eles que formam o capital humano do país. Hoje os melhores professores provavelmente estão longe dos alunos, em atividades que pouco colaboram para a geração e transmissão de conhecimento e consequentemente riqueza. A lei do mercado como sempre é implacável, e pagar melhor aos professores garante encontrarmos dentro da sala de aula alguém motivado e preparado para obter os resultados que lhes são demandados.
Resolução de problemas, curiosidade, pensamento crítico e perseverança não são somente os atributos que precisam ser passados aos jovens de hoje para terem sucesso na vida adulta, são também a base das mudanças que o nosso sistema educacional como um todo tem que absorver para mudar. Absorver e agir numa velocidade que ainda não vimos ser alcançada em outras áreas que tiveram muito mais atenção do que a educação no Brasil. Está na hora de compensar esse atraso.
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